Aspectos
importantes da realização de Feiras de Ciências na Educação Básica.
As ciências naturais são uma porta de entrada
a novos mundos, convidando estudantes e professores a desenvolver a
curiosidade, a pensar por si mesmos e olhar o mundo com novos olhos.
A educação em Ciências
sempre esteve vinculada ao desenvolvimento científico de um país, de uma
determinada região, e ao desenvolvimento científico mundial. Países com
tradição científica, como Alemanha, Inglaterra e França, desde o séc. XVIII
estabelecem políticas públicas para o ensino de Ciências. Já no Brasil, não há
essa tradição. A educação em Ciências no Brasil, só chegou à escola básica em
função das necessidades geradas pela industrialização. A crescente utilização
de tecnologia nos meios de produção impõe uma formação básica em Ciências.
Porém, o papel da escola ainda é pautado na transmissão dos conhecimentos de
forma mecânica, não levando em consideração que o estudante pode ser construtor
de seu próprio conhecimento.
Muito frequentemente, o
ensino de Ciências no Brasil ainda se baseia na transmissão do saber científico.
Desta forma, o estudante, muitas vezes, recebe as informações prontas e nem
sempre essas informações fazem sentido em seu cotidiano. Um ensino
investigativo que estimule o estudante a pensar cientificamente, pode nos
ajudar, em um futuro próximo, a construir uma sociedade participativa, com
ferramentas necessárias para gerar ideias próprias e decidir nosso próprio
rumo. Se os estudantes não aprenderem a pensar cientificamente, corremos o
risco de formar uma sociedade que, em seu conjunto, não possui pensamento
científico. O filósofo Marcelino Cereijido (1997) resume isto argumentando que
no Terceiro Mundo “não temos ciência”, porque nossas sociedades aceitam as
verdades, sem questionar, sem perguntar jamais sobre as evidencias que há
detrás delas.
O processo de aprendizagem
instaura-se a partir do desejo do ser humano de estabelecer trocas, de
partilhar o mundo. As Feiras de Ciências mostram-se como um importante momento
de troca de conhecimento entre estudantes, professores, equipe gestora da escola,
familiares, visitantes e funcionários da escola. Portanto, um importante
momento de aprendizagem. As Feiras/mostras de Ciências são conhecidas como
atividades pedagógicas e culturais com elevado potencial motivador do ensino e
da prática científica no ambiente escolar. Há registros internacionais de que a
primeira Feira de Ciências data do início do século XX. Porém, somente a partir
da II Guerra Mundial é que elas começaram a ser disseminadas.
No Brasil, as primeiras Feiras de Ciências
começaram a ser realizadas na década de 60. As Feiras são oportunidades dos
estudantes demonstrarem, das mais variadas formas, seus conhecimentos
científicos, sua criatividade, trocar informações com a comunidade, discutir
conhecimento, etc. O objetivo das Feiras de Ciências na educação básica, não é
trazer avanços significativos para a área (responsabilidade da ciência
acadêmica e não escolar), mas sim, despertar o gosto dos estudantes pelas
Ciências, além de promover a divulgação da cultura científica na comunidade
escolar. Este trabalho, de cunho bibliográfico, visa levantar informações sobre
a importância da realização de Feiras e mostras para o aprendizado de Ciências.
É importante que os trabalhos não sejam desenvolvidos exclusivamente para a
apresentação na Feira de Ciências, mas que haja uma intencionalidade didática
na ação e que, a Feira de Ciências seja um momento de apresentação do trabalho
e troca de conhecimento. Vemos, por vezes, escolas e professores organizarem
uma Feira de Ciências em poucas semanas e fica uma dúvida? De que forma foi
desenvolvido um projeto de modo que os estudantes pensassem sobre um
determinado problema ou questão do cotidiano, para que pudesse fazer sentido a
eles e a quem visita a Feira? De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:
O projeto é uma estratégia de trabalho em equipe que favorece a articulação
entre os diferentes conteúdos da área de Ciências Naturais e desses com os de
outras áreas do conhecimento, na solução de um dado problema. Conceitos,
procedimentos e valores apreendidos durante o desenvolvimento dos estudos das
diferentes áreas podem ser aplicados e conectados, ao mesmo tempo em que novos
conceitos, procedimentos e valores se desenvolvem (BRASIL, 2001, p. 126). Além
do conhecimento conceitual construído ao longo do projeto feito para a Feira de
Ciências, ela também atua:
1) como mobilizadora da produção: a
perspectiva de apresentar um trabalho gera no grupo uma vontade de fazer
melhor, compromisso com a qualidade;
2) como meio de transmissão de conhecimento: a
função deste conhecimento é social. Tem um interlocutor real e um potencial de
repercussão entre as pessoas;
3) como espaço de trocas e ampliação de
aprendizagens: os estudantes têm a oportunidade de ouvir comentários e questões
sobre o que produziram, além de visitar outros trabalhos e ter contato com
outros objetos de conhecimento;
4) como geradora de protagonismo: os
estudantes assumem um papel de formadores de opinião, orientando o público em
relação a questões sociais e/ou ambientais, contribuindo para a formação de
atitudes nos jovens;
5) como estímulo ao trabalho cooperativo: é
necessário dividir tarefas entre os membros da equipe, planejar, controlar
ações. O trabalho em equipe favorece a aceitação das diferenças culturais,
sociais, econômicas, etc., além de possibilitar a trocar de informações;
6) como impulsionadora da
competência comunicativa: oralidade, organização escrita do trabalho (se
houver), necessidade de argumentação;
7) como estímulo ao
desenvolvimento do método científico: os estudantes pensam sobre suas
hipóteses, elaboram atividades que comprovam ou refutam essas hipóteses,
comparam seus resultados com resultados obtidos anteriormente (bibliografia);
8) como desencadeador do gosto pela pesquisa:
desenvolver os projetos faz com que os estudantes percebam que são capazes de
explicar fenômenos antes apenas conhecidos e que a pesquisa é responsável por
isso.
Para haver mais aprendizado, é importante
envolver os estudantes, despertando o gosto pela ciência. Isso é fácil, afinal,
os seres humanos são seres curiosos por natureza. Para isso, não é necessário
ter um laboratório sofisticado na escola, materiais simples e boas perguntas
podem estimular a curiosidade os estudantes. Se houver possibilidade, levar os
estudantes à visitas fora da escola, em um zoológico ou a um museu de física
também pode ajudar a despertar este gosto pela ciência. De um modo geral
aprendizado de Ciências não se torna relevante após o período escolar, não
tendo muita permanência depois que o estudante sai da educação básica. Por
isso, os projetos para as Feiras de Ciências devem fazer sentido para os
estudantes e para a comunidade. É comum ouvirmos jovens adultos dizerem que não
se lembram do que aprenderam na escola, sobre física e química ou ainda,
dizerem que aprenderam sobre movimento retilíneo e uniforme e sobre reações
químicas, mas não se lembrarem de nada sobre o assunto. É impossível aprender
tudo sobre e de Ciências, portanto, deve-se optar entre um ensino superficial e
meramente informativo e a escolha de conteúdos significativos trabalhados de
forma investigativa que, além de proporcionarem conhecimentos científicos
variados, contribuem para a formação de atitudes, para a busca de informações e
para a formação da cidadania. Considerando que o ensino por investigação
mostra-se mais eficiente e que a aprendizagem torne-se mais significativa, a
opção por um trabalho meramente informativo não é viável para que os estudantes
possam compreender o mundo em que vivem. Deve-se ter clareza dos objetivos de
pesquisa e da expectativa de aprendizagem, de acordo com a faixa etária dos
estudantes. Mesmo os estudantes escolhendo o tema do projeto, os projetos devem
condizer com a faixa etária de cada grupo. Algumas vezes, em séries do ensino
fundamental I, é necessário mediar mais de perto a escolha do tema ou, definir
o tema a ser pesquisado. Formular hipóteses, observar em campo o problema,
definir estratégias para solucionar o problema, aplicar das estratégias,
analisar os resultados, levantar novas hipóteses (caso aconteça), buscar
bibliografia sobre o assunto e concluir, são as etapas importantes do método
científico que devem ser trabalhadas. É importante que os estudantes apresentem
seus conhecimentos prévios e, durante a pesquisa e a interação com os outros,
reformulem seus conhecimentos. Interpretar a realidade de forma diferente, após
reformular seus conhecimentos agrega significado ao conteúdo estudado. Além
disso, e tão importante quanto as etapas do método científico, os estudantes
devem valorizar o registro das descobertas. Não é possível pensarmos em
ciência, sem pensar em registro. Sabemos das descobertas científicas de muitos
séculos atrás, pois isso foi registrado de alguma forma. É importante colocar
no papel cada etapa, cada descoberta, por meio de desenho, de texto, de tabelas
e gráficos, por exemplo.
As Feiras de Ciências
mudaram nos últimos anos. Os estudantes não mais reproduzem, apenas,
informações de um livro, sobre uma maquete de hidrelétrica, por exemplo, mas
passam a utilizar o método científico para compreender o funcionamento desta
hidrelétrica, representada, no dia da Feira de Ciências, por uma maquete. A
partir do momento que o estudante aprende, e que essa aprendizagem é
significativa, ele é capaz de explicar diversas situações, contribuindo assim,
para o aprendizado de outros estudantes e da comunidade escolar. Os trabalhos
dos estudantes podem ser de diferentes tipos, por exemplo, trabalhos de
montagem como uma maquete com a rede elétrica de uma cidade, ou um vulcão. Além
disso, podem ser trabalhos informativos, por exemplo, sobre DSTs ou tabagismo,
ainda, trabalhos investigativos, onde os estudantes elegem um tema, definem o
que querem saber sobre este tema e pesquisam.
Cabe ao professor ser agente transformador,
para isso, o professor deve passar de uma posição tradicionalmente informativa,
para uma posição de professor questionador, com perguntas socialmente
relevantes, servindo de mediador de uma situação. O estudante torna-se o
pesquisar e o professor o mediador do aprendizado. Para mostrar aos estudantes
que a Ciência o ajuda a entender o mundo, os projetos e as Feiras de Ciências
funcionam como um gancho entre o conhecimento científico e o cotidiano. O
estudante que vivencia uma metodologia de investigação, por exemplo, através de
um projeto de pesquisa para uma Feira de Ciências, de torna-se mais criativo,
indagador e com vontade de aprender mais.
Enviado por: Tânia Maria Romeiro dos Santos/ Grupo da Pedagogia Anhanguera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário